quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Post com assunto potencialmente polémico

Sei que o assunto deste post é controverso e, por isso mesmo, divide opiniões.
A tragédia no Meco está em volta de mistério. E isso acontece porque, até ao momento, o único sobrevivente ainda não prestou qualquer declaração. Pelas reportagens que tenho visto, os pais não o culpam, apenas precisam de perceber o que se passou naquela noite. No fundo, todos temos a mesma "curiosidade". É natural que esteja abalado, no entanto já passou um mês. Não sei se está ou não a ter qualquer tipo de apoio psicológico,mas parece-me fundamental que o tenha para que ultrapasse o choque e fale. 
E, convenhamos, a culpa não é dele, nem da praxe e a praxe não é toda igual. E é isso que me leva a escrever este post.
Como em tantas outras coisas, o grande problema são as generalizações. Nos últimos dias, deparei-me com inúmeros comentários extremistas: que a praxe é uma merda (desculpem a linguagem); que quem a pratica é uma cambada de burros frustrados e que demora anos e anos a concluir o curso; que é uma estupidez; que ninguém no perfeito juízo concorda em ser humilhado; etc etc etc.
Sei que há casos em que a praxe é realmente uma estupidez. Todos sabemos de um ou outro caso de abuso, como alguns que foram noticiados há alguns anos. Mas não podemos generalizar, em nada!
Entrei para a faculdade em 2004, fui praxada por opção (como sempre! Ninguém é arrastado e obrigado a fazer o que não quer). No primeiro dia, houve uma reunião no ginásio da faculdade. Confortavelmente sentados, explicaram-nos em que consistia a praxe naquela instituição. Disseram que quem quisesse sair podia fazê-lo, sem qualquer problema. E explicaram, a quem decidiu livremente ficar, que se em algum momento não se sentissem bem, a qualquer momento (naquele primeiro dia ou em qualquer outro a partir dali) poderiam sair. Disseram que praxar não é humilhar. É cantar, é espírito de grupo, é brincar, é conhecer colegas de outros cursos (na minha faculdade, a praxe não era dividida por cursos, à excepção de um ou outro dia. Em todos os outros, eram com todos os alunos do 1º ano, de todos os cursos e que estavam ali pro vontade própria), festas, jantares de curso, família praxística (com padrinhos, tios, avós, etc etc) e tantas outras coisas que não são possíveis explicar a quem é "anti-praxe", sem nunca sequer ter experimentado.
Ri-me imenso, diverti-me imenso, conheci muita gente e as únicas lágrimas que verti foram de felicidade: quando passei a tribuna, no final do primeiro ano; nas imposições de insígnias; na missa de finalistas, com amigas que fiz para a vida lado a lado; quando a minha mãe, a tremer, tentava por a roseta na lapela do traje (e agora, a escrever isto, uma teima em cair. Saudades...). Em momento algum me senti gozada, humilhada. Herdei um nome de praxe de família, que tentei honrar ao longo dos quatro anos.
Lembro-me de uma Doutora que, por gritar demasiado e achar que era a rainha do pedaço, foi "convidada a sair" da comissão de praxe, logo nos primeiros dias, para que não houvesse qualquer abuso.
Lembro-mo de, numa actividade, ter de sair mais cedo por causa dos transportes e o Dux e o Colher de Pau, terem pedido a uma colega Doutora que me acompanhasse a casa. Era de dia, estava em Matosinhos e ela acompanhou-me até à porta de casa, junto ao Hospital de São João.
Não havia festa alguma que os caloiros fossem sozinhos para casa. Os Doutores dividiam-se em grupos e deixavam os caloiros à porta de casa. Nesse percurso, ninguém era gozado ou colocado em perigo. Pelo contrário, como vos estou a contar.
E há tantas outras histórias.
Fui praxada mas não praxei assim tanto, não vivia 24h para a praxe, mas estive sempre nos momentos importantes. E não me arrependo nem por um segundo. Porque eu escolhi. Como qualquer um pode escolher. E é por isso que, na minha opinião, que não faz sentido dizer que a tragédia do Meco aconteceu por causa da praxe e que por isso a praxe tem de acabar. Foi uma tragédia, mas a culpa não é do Dux, o único sobrevivente. É de todos que aceitaram estar ali, naquelas condições.
E, sim, para que conste, os abusos devem ser punidos! Só não generalizo e meto tudo no mesmo saco. Porque passei por isso e foi uma óptima experiência.
E eu tenho o maior orgulho de fazer parte do grupo de praxe académica da Escola Superior de Educação do Porto 2004-2008 [e sim, fiz o curso nos anos previstos, não reprovei nenhum].




Curiosidade: sabiam que o traje académico, aquele que os extremistas dizem ser horrível, tem como função não haver distinção? Sermos todos iguais, sem ostentações. Porque no Porto não é possivel usar colares, pulseiras, brincos, anéis, maquilhagem, etc. Tudo isso, no dia-a-dia, nos diferencia e nos confere um estatuto. Com o traje, todos somos iguais. Ninguém é mais do que ninguém; um não tem mais do que o outro. É sinónimo de igualdade.



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